terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Promessas

Um novo ano se aproximando, e entramos naquela expectativa de novo ciclo, novas chances e revisões. Como todo mundo, também tenho minhas promessas, e nem sempre consigo cumprir todas elas.
Mas 2010 foi um ano definitivamente bom, o que trás para 2011 a responsabilidade de ser ótimo.
Para não fugir a regra, resolvi me prometer algumas coisas, vamos lá:
1) Deixar de tomar refrigerante definitivamente
2) Comer doce respeitando o intervalo mínimo de 15 entre um e outro
3) Cuidar mais do cabelo
4) Aumentar o peso na aula pump
5) Reclamar menos
6) Ter mais paciência
7) Não usar relógio no final de semana
8) Voltar para o curso de inglês
9) Fazer uma certificação
10) Voltar a escrever minhas histórias

São dez itens que vão ficar registrados mais para mim do que para quem eventualmente ler. Que venha 2011, cheio de novidades e expectativas, pois pra mim eu já sei que ele vai passar voando.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Duas notas

É como uma música chata, que não sai da cabeça e faz os pés balançarem. A necessidade de espaço que torna o ar que se respira muito mais pesado. Os óculos na ponta do nariz, como se ele mesmo fosse um empecilho para a visão. Abrir janelas e portas com gestos automáticos, como se a alma pudesse utilizá-los como rota de fuga. Mas a cabeça balança, indicando que tudo não passa de uma mentira. Dolorosa e artificial.

Queria gritar, mas lhe é proibido. Queria correr, mas os pés estão acorrentados. Imagina um laço que ira se prender no primeiro avião, mas algo prende as suas mãos. O tempo se torna herói e vilão, nada mais importa, é apenas uma mentira. Profunda e rasa.

Não dorme mais a noite, pois se esqueceu de sonhar. Os teclados procuram furiosamente com quem conversar. A cerveja está quente, pois ela não é mais necessária para fingir amar. A pupila dilata com as imagens recebidas, escuta carros passando no bairro vizinho, quando o ouvido tenta identificar os sussurros descritos. O relógio toca lembrando que tudo não passa de uma mentira. Real e virtual.

O pedal do acelerador o transforma em um deus. Motor com motor, freada repentina, seca o suor da testa. Não existe mais espaço para se mostrar. Famílias desenhadas ao redor debocham da sua solidão. Sente gosto de sangue na boca ao mesmo tempo em que escuta as buzinas. O sinal verde lembra que ele é a única verdade, o resto não passa de uma mentira. Rápida e tardia.

Por isso quando sentiu o impacto na ponte fazendo o seu carro flutuar, seus orifícios tomados pelas águas escuras de um rio qualquer, pensou ser uma benção para logo em seguida ser tomado pela raiva e num último gesto bater o punho contra o volante. Pois se era bom, era uma mentira. Morte e vida.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Capítulo Dezenove

São Paulo, Morumbi

João estava cansado. Havia andando de um lado para o outro no Rio de Janeiro. Tinha quase certeza de que Josias era realmente o seu tio. Estava com os papéis de transferência para o colégio de Doca. A única coisa que havia ficado pendente era Odete Eztufp. Um nome que estava fora da lista telefônica carioca.
Foi com pânico que viu Doca de olhos fechados, sentado de forma ereta e com os músculos duros como pedra. O grito que se seguiu havia sido de puro medo. O mesmo sentimento que experimentava agora, ao ver as duas pedras grudadas, como se nunca tivessem sido duas.
– Não tem marca nenhuma. – comentou em voz alta.
– Ela as grudou. – Doca murmurou.
– Ela? Ela quem? – João se surpreendeu – Quem esteve aqui, Doca?
– Ninguém. Eu que não estava aqui. Eu estava em outro lugar, numa sala grande, antiga, cheia de fotografias. – Doca olhou para os machucados no braço – Se não fosse o gato, ela teria me matado.
– Doca. Não estou entendendo. Você saiu do flat sozinho?
– Eu não sai. Teresa pode confirmar. Foi através de um sonho. Como um filme que assisti, que o assassino pega as pessoas enquanto elas dormem.
– Foi ela quem te machucou?
– Não. Foi o gato. Quando ela ia me matar, ele saltou. Mas ele usou o meu braço como apoio, e as unhas dele me machucaram.
Se não fosse a pedra, João iria achar que Doca estava mentindo. Mas a evidência estava ali, em suas mãos. Que engraçado. Durante anos sua mãe e sua ex-mulher sonharam com o seu amadurecimento. E esse só chegou com uma sequência de estranhas coincidências.

Doca levantou da cadeira e começou a caminhar pela sala, sentia-se estranho. O coração estava apertado no peito, as pernas tremiam e a cabeça parecia oca. Tinha medo de voltar para aquela sala, e com isso foi até a janela.
A janela do flat tinha como vista outros prédios tão alto quanto o que estavam. Isso lhe dava certeza de que não estava na casa - ele sabia que era uma casa - pois lá, não viu janelas ou qualquer paisagem, apenas pesadas cortinas que davam um ar sombrio.
Ao virar, deparou-se com João lhe observando, seu olhar refletia preocupação. Então lembrou que ele estava no Rio, procurando a ligação dos dois.
– Você descobriu alguma coisa no Rio?
– Não muita coisa. Fui no orfanato que o seu pai morou, mas não existe nada sobre a mãe biológica. Ele passou de mão em mão, até fugir do orfanato e parar na favela em que você nasceu.
– Então você ainda não sabe se somos realmente primos?
– Tenho quase certeza de que você é meu primo. Apesar de não ter evidências, as informações batem com as a agência de detetives.
– E o que isso quer dizer?
– Que a agência fez uma investigação com informações mais sólidas. Minha mãe conhecia os diários de Irina, minha avó. Então, ao contrário de mim, tinha um ponto de partida. – João mexeu em uma pasta – Aqui estão. Eu trouxe os papéis para você estudar aqui em São Paulo.
– Eu vou voltar a estudar?
– Vai. Mas sinto dizer que esse ano você perdeu. Precisamos achar a terceira parte da família, e por consequência, a peça que completa esse quebra-cabeça – olhou para a pedra que ainda estava em sua mão – e uma tal de Odete.
– Odete?
– Sim. O nome dela constava numa lista de pessoas que buscaram informações sobre o seu pai no orfanato.
– Existem muitas pessoas?
– Muitos jornalistas foram até lá, quando seu pai morreu.
– Imagino. Mas por que você acha que ela é diferente?
– Por que ela fez a pesquisa em 1968.
– Nossa. Então ela deve saber toda história do meu pai.
– Sim. Por isso precisamos conversar com ela primeiro, e depois, vamos atrás da última peça.
– Do outro triângulo. – Doca observou o olhar surpreso de João – Olhe. É um triângulo que a completa.
– Sim. Você tem razão.
– Estou ansioso, mas ao mesmo tempo com medo. O que vai ocorrer quando acharmos a peça que completa o quebra-cabeça?
– Não sei, Doca. Não tenho a mínima idéia.
– Sei que ela vai aparecer.
– Ela quem?
– A bruxa. Ela irá unificar a última peça. Mas não quero ficar sozinho com ela.
– Você não vai mais ficar sozinho perto dessas pedras, Doca. E tenho a impressão que isso deve evitar de você encontra-la novamente.
Doca deu um suspiro. Não era covarde. Mas também não era burro de querer encontrar uma criatura que o fazia mudar de lugar num piscar de olhos. João começou organizar os papéis que estavam em sua pasta, o que fez Doca lembrar da pessoa que poderia ser a chave para o passado do seu pai.
– Você tem o sobrenome dessa Odete? Podemos procurar pela internet.
– Podemos sim. Mas antes vamos cuidar do seu braço.
Doca resmungou bastante enquanto João limpava seu braço. Ligou para uma farmácia e pediu uma pomada. Não acreditava que um gato fantasma pudesse causar alguma infecção, mas era bom não se arriscar.
– Como era esse gato?
– Igual ao da rodovia. – João parou de passar a pomada e o olhou – Quando você quase me atropelou, lembra? Tinha um gato na rodovia. Era igual aquele. Só que esse falava e tinha uma voz de mulher.
– Uma gata?
– É. – Doca retribuiu o sorriso.
– Naquela noite cheguei a procurar o gato. – João fechava a pomada e guardava tudo em uma pequena bolsa – Achei que tinha atropelado o bichano também. Mas ele sumiu, achei que tinha se escondido no meio do mato.
– Eu sempre achei que ele tinha me salvo. Foi por causa dele que me mexi e fui para o acostamento.
– Quer dizer que, no lugar de um anjo da guarda você tem um gato da guarda?
– Deve ser. Vamos procurar a Odete?

Entraram em vários sites, depois de duas horas sentados na frente do computador, encontraram, na lista telefônica on-line de Curitiba, Odete Eztufp.
– Tem até o endereço! – Doca apontou para a tela. – Rua, bairro, número...
– É o milagre da Internet.
– E agora?
– Agora? Agora nós vamos fazer as malas, Doca. Iremos vamos fazer uma visita a Curitiba. – João declarou.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Esperar

Creio que a espera seja uma das ações mais complexas de ser realizada pelo ser humano. Com poderes para unificar em poucos minutos sentimentos como ansiedade, raiva, nervosismo e tristeza. Mas também pode conter alegria, satisfação e realização.

A espera pode dar fim a unhas cuidadosamente feitas ou simplesmente colocar a leitura de um livro em dia. Ser o princípio de uma decisão brusca ou a origem de boas idéias. Um aumento na pressão arterial ou a prática de uma respiração profunda seguida de meditação com olhos abertos.

Esse momento também propicia a observação de locais, pessoas e móveis. Se o local for confortável, abre alas para a fantasia, um amante inexistente abrindo a porta, o bilhete premiado na loteria, um tsunami no mar de cimento. O único elo é o relógio.

Se for uma entrevista de emprego, é um teste para os nervos do candidato, mas também é uma avaliação do empregador com os compromissos marcados e o seu respeito em relação aos subordinados. A reunião com amigos pode gerar apelidos, o encontro com o amado pode gerar separação.

Espera, esperar, esperamos, esperávamos, palavra simples, comum, as vezes pequena, as vezes essencial. Todos esperamos por algo ou esperamos não mais esperar. Profunda ou rasa, perto ou longa, segundos, minutos, horas, sinônimo de liberdade, amiga da prisão.

Para as mulheres, pode ter como companheira inseparável uma caixa de bombom. Telefone silencioso, noite escura, travesseiro vazio. Momento em que o tempo se torna uma ampulheta com grãos de areia. Aumento de salário, apartamento ou bicicleta. Aliança ou solidão. Carreira ou filhos. Por quem devo esperar e a quem devo fazer esperar?

Simplesmente e unicamente espera.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Capítulo Dezoito

Curitiba, Cristo Rei

– A... – Os olhos de Clarissa se arregalaram – A pedra...
– Sim. A pedra que vocês me deram de aniversário. Vou leva-la para a empresa. Para deixar como enfeite.
– Enfeite. – balbuciou Clarissa.
– Você está bem?
– Estou.Com licença.

Clarissa saiu atordoada, sem saber o que fazer, abriu a porta do apartamento e pegou o elevador, quando se deu conta, estava batendo na casa de Odete.
– Oi, minha querida. – Odete olhou Clarissa com mais atenção – O que houve?
– Você tem um tempo livre?
– Claro. Entre, menina.
Clarissa se dirigiu até o sofá cor-de-rosa e sentou-se.
– Eu precisava falar com alguém. Preciso que alguém me explique como ela saiu do lago.
– Calma. Quem saiu do lago? – ao notar os olhos vidrados de Clarissa, sentou-se aos seu lado e cobriu as mãos da garota com as suas. - Você não quer me conta a história desde o início?
– Hoje de manhã, eu peguei uma pedra em formato triangular do quarto da Lúcia. Foi um presente nosso, no último aniversário dela. – Clarissa encarou Odete. – Notei que ela tinha um reflexo bonito, amarelo escuro e rosa, quando atingida por uma luz mais forte. Pensei em usa-la de enfeite para um evento da empresa.
– Mas...
– Mas eu não pedi a Lúcia. Simplesmente a peguei e coloquei na minha bolsa. Quando cheguei na Ópera de Arame, um homem me parou, e disse que eu estava carregando um fardo que não era meu.
– Que homem é esse?
– Eu não sei. Só sei que não podíamos entrar no teatro, pois havia pessoas lá dentro. Eu não encontrei nenhum lugar para sentar e resolvi me equilibrar na grade da ponte mesmo.
– Você sentou na grade? Ficou maluca menina! E se você caísse?
– Mas foi o que aconteceu. Ou quase aconteceu. Um grupo de adolescentes apareceu correndo do nada e um esbarrou em mim. – Clarissa soltou as mãos, e começou a mexer no cabelo nervosamente. – A minha sorte é que os meus pés estavam enroscados nos desenhos da grade... e eu fiquei de ponta cabeça.
– Minha Nossa Senhora.
– Os meus colegas e outro homem que me ajudaram a levantar. Mas no momento em que quase cai, a pedra escorregou da minha mão e foi parar no lago.
– E você não sabe como contar para Lúcia? – Odente enxugou as lágrimas que haviam começado a surgir nas faces de Clarissa.
– É pior do que isso. – A voz de Clarissa soou desesperada. – Agora a pouco, quando entrei no quarto de Lucia para lhe contar, e implorar por desculpas... – Olhou para suas mãos que tremiam antes de voltar a encarar Odete. – A pedra estava nas mãos dela. Odete. A pedra voltou para o quarto da Lúcia.
Odete ficou pálida. Sem conseguir pronunciar uma palavra, levantou-se. Caminhou até a janela e olhou em direção ao Jardim Botânico iluminado pelas luzes da noite. Ficou muito tempo em silêncio, com as mãos juntas, grudadas ao peito. Quando voltou a falar com Clarissa, sua voz era rouca e séria.
– Há muito tempo atrás, eu ouvi falar de uma pedra retangular, com reflexos amarelos e rosas. – Lentamente, retornou para o sofá. – Conforme a sua dona, era uma pedra maldita, que levava a morte.
– Será que demos uma pedra amaldiçoada para Lúcia?
– O que não entendo, é que conforme Irina, essa pedra teria uns dez centímetros, mas pelo que você contou, ela é bem menor.
– A senhora disse Irina?
– Sim, Por que?
– É o mesmo nome da bisavó de Lúcia.
– É mesmo? Que coincidência. Você sabe o sobrenome dela?
– Não. Mas posso descobrir.
– Enquanto você não descobre, e eu penso melhor sobre o assunto, vamos tomar um chá. – Odete sorriu, voltando a sua postura natural e dando uma palmadinha na mão de Clarissa.

Lúcia terminou de arrumar as suas coisas e voltou para a sala. Encontrou Soraya debruçada sobre os livros.
– Soraya?
– Oi. Diga.
– O que a Clarissa tem?
– Não sei. Ela está estranha, né?
– Bem estranha. – Lúcia suspirou - Vou terminar de arrumar as minhas coisas e não te atrapalhar mais. Quando ela voltar, a gente conversa.
Mas quando Clarissa voltou, Lúcia também estava ocupada com os trabalhos da faculdade. Com dores nas costas, Clarissa tomou mais um remédio e foi para o seu quarto.

– Clarissa! Levanta. Você está atrasada. – Soraya gritou.
– Eu estou de atestado. Não enche.
– Então vamos nós. – Soraya levantou os ombros. – À noite conversamos. E descobrimos que bicho mordeu ela.

Chegaram na empresa e na sala, além dos colegas, havia uma criança, apresentada como o filho mais velho de Heloísa. Depois de cumprimentar todos, Lúcia começou a ajeitar a sua mesa. E a primeira peça que colocou foi à pedra triangular.
– Que legal. Posso ver?
– Rafael. Não incomode a Lúcia. – Heloísa repreendeu.
– Ele não está me incomodando – Lúcia respondeu, sorrindo para o menino – pode ver sim.
O menino levou a pedra até a janela e observou o reflexo admirado.
– O meu grupo de ciências vai apresentar hoje uma exposição sobre diferentes tipos de pedra. Você me empresta?
– Rafael!
– Não tem problema, Heloísa. Pode levar, Rafael. Eu a uso apenas para enfeite.
– Não se preocupe. Eu vou cuidar bem. E amanhã minha mãe traz de volta.
– Não tem pressa.
Heloísa saiu, levando Rafael para a escola. Nisso, uma moça de cabelos curtos e castanhos se aproximou.
– Olá. Vocês devem ser as novas colegas. Meu nome é Verônica e sou assistente social.
– Prazer, Verônica. Eu me chamo Soraya e está é a Lúcia.
– Oi, Verônica.
– Não pensem mal de mim. – ela olhou para a porta se certificando que ninguém estava ouvindo – mas não deixem nada de valor, sentimental ou financeiro, em suas mesas. Se o Rafael gosta, leva e nunca mais devolve.
– Sério? Lúcia sentiu-se entristecer ao pensar na pedra que havia ganhado de presente das amigas.
– Sério. A Heloísa não faz nada. Se você reclamar, ela ficará bastante aborrecida.
– Se você soubesse, não teria emprestado.
– Seria pior, Soraya. Uma estagiária fez isso, e Heloísa não renovou o contrato dela. Todos adoravam o trabalho que ela fazia em campo, mas por causa de uma lapiseira, ela foi mandada embora.
Soraya e Lúcia observaram as mesas pessoais das outras colegas e notaram que só tinham porcaria. Aproveitando a ausência de Heloísa, guardaram tudo o que tinham de valor.

Foi um dia bastante cansativo. Quando chegaram em casa, encontraram Clarissa olhando um filme. Soraya foi tomar banho e Lúcia aproveitou para pegar um suco e sentar ao lado de Clarissa.
– Que filme é esse? – Lúcia observou a cena em que a mulher pilotava um avião.
– Além da Eternidade.
– Sobre o que... – antes de completar a frase, o telefone de Lúcia tocou – Alô? Oi Heloísa. Meu Deus. E ele está bem? Na UTI? Mas como foi que aconteceu? Não se preocupe com isso, era apenas uma pedra que eu usava para decoração. Concentre todas as tuas atenções para o Rafael. Pode deixar, eu aviso o pessoal.
Quando desligou o telefone, Clarissa a olhava, muito pálida.
– O que houve? – perguntou com uma voz trêmula.
– O Rafael, filho da Heloísa, sofreu um acidente na feira de ciências do colégio. Um grupo próximo resolveu apresentar uma experiência que acabou explodindo tudo, não entendi direito. Sei apenas que o menino está queimado e na UTI.
– De que pedra você estava falando?
– Clarissa, tu parece um papel de tão branca. Está tudo bem?
– De que pedra vocês estavam falando? – Clarissa gritou.
– Hei. Que gritaria é essa? – Soraya estranhou ao sair do banheiro.
– Me diz, Lúcia. Que pedra é essa?
– É a minha pedra. A pedra que vocês me deram de aniversário.
– E o que o filho da Heloísa estava fazendo com ela?
– Vocês podem me dizer o que está acontecendo? – reclamou Soraya.
– A Heloísa me ligou. – Lúcia começou a explicar. - O Rafael sofreu um acidente na escola. Está na UTI. E ela me ligou para dizer que ele perdeu a minha pedra. E a Clarissa está surtando desde que ouviu isso.
– Por que ele estava com a tua pedra? – Clarissa perguntou, respirando fundo para se acalmar.
– Ele pediu emprestado a Lúcia, ia apresentar um trabalho sobre pedras na escola. – Soraya respondeu, observando o olhar furioso de Lúcia. – Mas que acidente ele teve?
– O grupo do lado fez uma experiência mal sucedida e provocou um incêndio. Tadinho. E a Heloísa preocupada, que ele havia perdido a minha pedra.
– Você já olhou no seu quarto?
– Que pergunta besta é essa, Clarissa? Enlouqueceu?
– Não. Você já entrou no seu quarto desde que chegou?
– Não. Por que?
– Olhe. – E sem dizer mais nada, Clarissa sentou-se novamente olhando para a televisão, como se prestasse a atenção no que estava assistindo.
Lúcia sentia um desejo enorme de bater em Clarissa. “Deve estar de TPM.” Pensou, enquanto se dirigia ao quarto, para buscar sua roupa e tomar um banho. Soraya foi para a cozinha, fazer um chá de cidreira, para acalmar os ânimos. Quando retirou a primeira xícara do armário, ouviu o grito de Lúcia, e a derrubou no chão, transformando-a em cacos.
– Meu Deus! O que houve Lúcia?
Lúcia voltou para a sala mais pálida que Clarissa.
– Ela achou a pedra.
E como num eco as palavras de Clarissa, Lúcia estendeu a mão direita e exibiu a pedra.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Entre árvores e bons velhinhos

Fazia algum tempo que eu ignorava o espírito de natal e acabava me estressando com as compras de última hora no mercado (e suas filas quilométricas) e com os presentes. O dia 02/01 trazia uma espécie de alívio depois de uma exaustiva passagem de ano.

O que mudou em 2010? Um final de semana em Gramado. Ao atravessar uma rua no meio da tarde de sábado é possível se deparar com um ônibus cheio de senhores vestidos de vermelho e com longas barbas brancas. Todos sorriem e abanam com firmeza e calma que lhe são características.

Eles também podem se tornar gigantes, caminhando pelos pontos turísticos e sendo vistos de diversos pontos.

Mas o momento sublime ocorre às 21hs, quando a cidade está com todas as luzes da decoração apagada. A grande árvore começa a se iluminar aos poucos até que bum, tudo se ilumina e é impossível segurar o sorriso. O grande “AH” que quebra o silêncio indica, todos voltaram a ser criança.

Quando retornei no domingo, estava com o meu espírito natalino acordado, desejoso por uma árvore com bolas coloridas na sala, bonitos pacotes de presente e uma mesa cheia de amor e carinho e é claro, uma folha de calendário para fazer a contagem regressiva, afinal, o que Papai Noel irá me trazer?