sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ah, eu não sou gaúcho

Na sala de café da manhã em um hotel em Gramado, o atendente explica para os turistas vindos, pelo sotaque, do nordeste do Brasil:

- Os gaúchos são os descendentes dos índios. Eles que usavam as facas, calças e botas que hoje fazem parte das tradições nos CTGS.
- Mas aqui são todos gaúchos, não? Pergunta o turista.
- Não – responde o rapaz – Aqui em Gramado são os descendentes de alemães, em Canela estão os gaúchos.

A conversa seguiu com informações totalmente desconexas. Quando a turma foi embora, o casal que estava ao nosso lado chamou o rapaz, que se animou no mesmo tom da conversa. Lá pelas tantas, a senhora questiona:
- Mas você não é gaúcho?
- Não, eu sou descendente de alemão.
- E onde você nasceu?
- Aqui.

Lembrei-me dos estádios de futebol, onde diferentes pessoas, de todas as descendências, raças e crenças gritam em alto e bom tom “Ah, eu sou gaúcho”. No caso do rapaz, imagino que ele não se considere nem brasileiro. O que talvez não saiba é que se ele for fazer uma viagem para a Alemanha, não será tratado como um deles, mas como um turista, pois por mais que ele negue, ele é brasileiro e gaúcho.

Fiquei imaginando o que gera essa necessidade de superioridade pobre, onde o preconceito é latente em cada palavra, onde o racismo com a cidade ao lado é claro como água. O quanto isso deve afetar o nosso dia-a-dia? A escolha dos políticos? O que deve ser melhorado? O que deve ser preservado?

São pessoas que não amam a terra que acolheu os seus antepassados, que as renegam mesmo quando tiram o seu sustento dela. A ignorância sobre a história é aceitável, mas essa negação é digna de obrigar a criatura é frequentar um curso de cidadania.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Enquanto água

No segundo semestre de 2007 tive o prazer de frequentar as aulas de narrativa curta ministradas pelo professor e escritor Altair Martins. Entre debates e leitura de nossos próprios contos, Altair nos apresentava alguns inéditos de sua autoria.

Como já dizia um antigo comercial de TV “o tempo passa o tempo voa” e eu recebo um e-mail para o livro de contos do Altair com o título “Enquanto água”, local ao qual os contos lidos em sala de aula pertenciam. Dei um jeito na agenda e sábado à noite me fui para a Feira do Livro de Porto Alegre.

Junto com a minha querida amiga Karen comprei o livro e foi com emoção que vi nas páginas finais o agradecimento à turma do curso de formação de escritores e o meu nome lá, listado. Quase chorei, afinal, não é sempre que participamos dos primeiros passos de um grande escritor e ainda somos lembrados por ele.

E também fica claro como esse período foi inesquecível para todos os que compartilharam momentos de risada, brigas e lágrimas, pois em um curso em que as pessoas almejam escrever, não poderiam faltar sentimentos e emoções.